Espondilite anquilosante

Fonte:

 

Tradão e Edição de Imagem Científica:

Adaptação Científica:

Drª. Ana Sofia Correia

Validação Científica:

Prof.João Eurico da Fonseca

O que é?

A espondilite anquilosante é uma forma de artrite que afecta principalmente a parte inferior do dorso. Esta doença causa inflamação e lesão das articulações e afecta, em primeiro lugar, as articulações sacro-ilíacas entre a coluna e os ossos da bacia. Pode igualmente afectar outras áreas da coluna e outras articulações, tais como o joelho e a anca. Finalmente, numa parte dos doentes, ao fim de décadas de evolução da doença, as articulações inflamadas da coluna podem fundir-se ou aglomerar-se de tal forma que se torna impossível mobilizarem-se de forma independente. A palavra espondilite refere-se à inflamação da coluna e anquilose significa fusão de dois ossos num só.

A espondilite anquilosante afecta aproximadamente entre 1 a 3 indivíduos em cada 1.000. Esta doença pode atingir vários membros da mesma família, existindo por isso um factor predisponente hereditário. A sua causa não se encontra esclarecida. A espondilite anquilosante afecta homens jovens sem outros problemas de saúde. Os homens sofrem desta doença com uma frequência 10 vezes superior em comparação com as mulheres. A espondilite anquilosante surge mais frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade, mas pode desenvolver-se na infância.

Manifestações clínicas

Uma pessoa com espondilite anquilosante sente frequentemente dor ou rigidez na parte inferior do dorso, especialmente de manhã ou após períodos de inactividade. De um modo geral, a dor no dorso surge ao nível da articulação sacro-ilíaca (região glútea) e progride em sentido ascendente ao longo da coluna. Finalmente, a doença pode afectar a totalidade da coluna. As pessoas podem ter dores e aumento da sensibilidade dolorosa nas coxas, nas ancas e em outras articulações. Os joelhos e os tornozelos pode ficar igualmente inflamados, embora esta doença não afecte geralmente mais de três ou quatro articulações simultaneamente nos membros superiores e inferiores.

Uma característica da espondilite anquilosante é que a rigidez melhora frequentemente com a actividade. As pessoas que sofrem desta doença podem piorar se não praticarem exercício físico regularmente (pelo contrário, a dor no dorso secundária a outras causas tende a agravar-se com o exercício). À medida que a coluna e as suas estruturas de suporte se tornam rígidas, o doente pode começar a inclinar-se para a frente. Com o tempo, numa parte dos doentes, os ossos da coluna podem fundir-se ou aglomerar-se, conduzindo a uma coluna extremamente rígida, denominada coluna de bambu. Esta situação pode dificultar a inspiração profunda, uma vez que a rigidez da coluna e das articulações entre as costelas e o esterno dificultam a expansão do tórax. Em casos raros, a inflamação dos pulmões causa falta de ar e a inflamação dos olhos pode provocar uma diminuição da acuidade visual com olhos vermelhos e dolorosos. A dor e a rigidez na região lombo-sagrada podem causar problemas na marcha. Todos os movimentos podem tornar-se extremamente dolorosos.

Outros sintomas possíveis da espondilite anquilosante incluem:

  • fadiga
  • febre
  • perda do apetite
  • perda de peso.

Diagnóstico

O médico irá interrogar o doente sobre os seus sintomas, irá examiná-lo e irá pedir radiografias ou outros exames imagiológicos, tais como uma tomografia computorizada ou uma ressonância magnética nuclear, para verificar se existem problemas ao nível das articulações sacro-ilíacas ou em quaisquer outras articulações que se apresentem dolorosas ou rígidas. O médico pode igualmente pedir uma análise de sangue para pesquisar a presença de um gene denominado HLA-B27. Este gene é encontrado mais frequentemente em pessoas com espondilite anquilosante do que nas outras pessoas. No entanto, a presença do gene HLA-B27 não significa que a pessoa tem ou irá desenvolver uma espondilite anquilosante. O médico irá diagnosticar esta doença com base numa combinação de sintomas, no exame objectivo, em análises de sangue e em exames imagiológicos.

Evolução clínica

Em muitos casos, a espondilite anquilosante é ligeira e pode passar despercebida durante anos. No entanto, uma vez diagnosticada, constitui um problema para o resto da vida.

Prevenção

Não existe forma de prevenir a espondilite anquilosante.

Tratamento

O objectivo do tratamento consiste em reduzir a dor articular e prevenir, atrasar ou corrigir a lesão ou deformidade da coluna e de outras articulações.

Medicamentos
Diversos medicamentos podem ser eficazes, incluindo os medicamentos anti-inflamatórios não esteróides (tais como o ibuprofeno), os analgésicos (como o paracetamol), a sulfassalazina ou o metotrexato. Na última década, os medicamentos injectáveis adalimumab, etanercept, infliximab e golimumab foram também aprovados para o tratamento da espondilite anquilosante. Estes medicamentos são mais eficazes do que os medicamentos mais antigos, mas só devem ser utilizados nos doentes que não respondem à terapêutica convencional

Tratamento diário
O tratamento geralmente inclui a fisioterapia e o exercício físico. Um fisioterapeuta irá desenvolver uma rotina de exercício físico individualizada que irá incluir exercícios de alongamento e para aumentar a mobilidade, com a finalidade de ajudar a coluna a permanecer flexível. Os exercícios abdominais e dorsais podem ajudar a manter uma boa postura, de forma a diminuir a tendência da pessoa para se inclinar para a frente. A natação é um exercício particularmente vantajoso, uma vez que pode ser mais fácil a mobilização das áreas rígidas e dolorosas dentro de água. O ciclismo também tende a ser um bom exercício para as pessoas com espondilite anquilosante. Estas devem evitar quaisquer actividades que possam provocar um grande esforço sobre o dorso. Por exemplo, a corrida pode agravar a dor no dorso uma vez que esta actividade exerce mais pressão sobre as articulações da coluna vertebral.

Os banhos quentes, a aplicação de calor e as massagens podem ajudar a aliviar a dor. Se for possível, o doente deve dormir em decúbito dorsal sobre um colchão firme e deve usar uma pequena almofada ou deve dormir mesmo sem almofada.

Uma vez que a espondilite anquilosante pode afectar os ossos da caixa torácica, a capacidade pulmonar pode ficar restringida. Os exercícios respiratórios podem ajudar a manter a capacidade pulmonar. Se o doente fumar, o abandono deste hábito deve ser considerado uma prioridade.

Mesmo com todos os cuidados médicos apropriados, algumas pessoas irão desenvolver fusão da coluna.  No entanto, a maior parte dos doentes continua a manter actividade funcional. Em alguns momentos da doença, pode ser útil usar uma tala dorsal ou outros dispositivos, como uma cinta, uma bengala ou talas para as articulações. Se estiverem envolvidos outros órgãos, tais como o coração ou os olhos, pode ser necessário consultar um especialista nestas áreas e o doente pode necessitar de tratamento e monitorização adicionais. Por exemplo, uma pessoa com espondilite anquilosante poderá necessitar de um pacemaker se o coração estiver afectado.

Cirurgia
A cirurgia é necessária apenas se a doença tiver causado uma lesão neurológica na coluna ou se a lesão articular for grave.

Quando contactar um médico

Contacte um profissional de saúde se tiver alguns sintomas de espondilite anquilosante, especialmente:

  • dor e rigidez no dorso que se agrava gradualmente ao longo de semanas a meses
  • rigidez de manhã cedo, que melhora quando toma um banho quente de chuveiro ou quando pratica exercício leve, especialmente se este sintoma persistir durante semanas ou meses.

Prognóstico

As pessoas com espondilite anquilosante geralmente apresentam períodos alternados de melhoria e agravamento dos sintomas. Estes períodos não são previsíveis. Com o tratamento, os sintomas podem geralmente ser aliviados ou controlados, para que o doente possa ter uma vida normal e produtiva. No entanto, mesmo com o tratamento, o doente pode desenvolver problemas posturais e de mobilidade permanentes.

Informação adicional

Sociedade Portuguesa de Reumatologia

http://www.spreumatologia.pt

Arthritis Foundation

http://www.arthritis.org/

Spondylitis Association of America

http://www.spondylitis.org

Uma resposta to “Espondilite anquilosante”

  1. jorge manuel bastos das neves Says:

    Muito boa e importante informação sobre este problema de saúde que afeta pessoas na sua maioria pessoas ainda jovens.
    Elucidativo, alertando para um diagnóstico mais precoce de modo a se poder traçar um plano de tratamento mais eficaz que possibilite ao doente poder manter na medida do possível as suas habituais atividades.
    Parabéns aos autores e ao Programa Harvard Portugal.
    Continuação do vosso bom trabalho.


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