Traumatismo Craniano no Adulto: O que é? Quais são os sintomas? Quais são as formas de prevenção?

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Tradão e Edição de Imagem Científica:

 

Adaptação Científica:

Dr. André Carvalho

Validação Científica:

Prof. Lobo Antunes

Oiça, em 1 minuto, o áudio sobre Neurologia pelo Prof. João Lobo Antunes: O que é um Traumatismo Craniano?

Leia o artigo aqui:

O que é?

O traumatismo craniano pode provocar vários tipos de lesões cranianas, tais como:

• Fractura craniana — Uma fissura ou fractura de um dos ossos do crânio. Em alguns casos, o crânio fica “amolgado” para o interior, pelo que os fragmentos de osso despedaçado pressionam contra a superfície do cérebro. Isto denomina-se de fractura craniana com depressão. Na maioria dos casos, uma fractura do crânio provoca uma contusão na superfície do cérebro por baixo da fractura.

• Hematoma epidural — Esta é uma forma de hemorragia grave que acontece quando um dos vasos sanguíneos sob o crânio que se encontram na meninge (dura-máter) se rompe durante uma lesão que, em regra, também fractura o crânio. À medida que o vaso sanguíneo danificado sangra, o sangue acumula-se no espaço entre a camada óssea protectora e a dura, a membrana mais exterior das três que cobrem o cérebro. Esta acumulação de sangue denomina-se de hematoma e pode expandir-se dentro do crânio e pressionar o cérebro, provocando a morte.

• Hematoma subdural agudo — Nesta lesão, um vaso sanguíneo rompe-se e o sangue acumula-se entre a dura e a superfície do cérebro. Isto pode acontecer quando existe um traumatismo com a cabeça ou uma paragem súbita do movimento da cabeça que faz com que esta se movimente violentamente para a frente e para trás (lesão em chicote). Uma lesão cerebral devido a traumatismo por hiperextensão ou hiperflexão do pescoço é mais comum no idoso e nas pessoas que tomam medicações que alteram a coagulação ou as plaquetas. O hematoma subdural agudo desenvolve-se rapidamente após um traumatismo craniano grave frequentemente provocado por um acidente de viação ou queda. É uma lesão cerebral muito grave que provoca, tipicamente, inconsciência e é fatal em cerca de 50% dos casos.

• Hematoma subdural crónico — Ao contrário da forma aguda, este tipo de hematoma subdural desenvolve-se lentamente porque a hemorragia dentro do crânio é menos aguda e, o hematoma pode acumular-se em vários episódios pequenos separados de hemorragia. Um hematoma subdural crónico segue-se, tipicamente, a uma lesão craniana ligeira numa pessoa que é idosa, está a tomar medicações que alteram a coagulação ou as plaquetas e cujo cérebro se atrofiou (encolheu) em resultado de alcoolismo ou demência. Os sintomas mais comuns são a sonolência, falta de atenção ou confusão, cefaleias, alterações na personalidade, convulsões ou a paralisia ligeira e desenvolvem-se, gradualmente, durante uma a seis semanas.

• Hemorragias e contusões intraparenquimais — As hemorragias e contusões (escoriações) intraparenquimais ocorrem dentro do próprio cérebro e não entre o cérebro e o crânio. Estas lesões podem ser provocadas por um impacto directo do cérebro ou por uma lesão indirecta, na qual a força de um impacto num lado do cérebro faz com que o cérebro ressalte e faça ricochete no crânio criando uma segunda área de lesão do lado do cérebro contrário ao impacto original (“contra-golpe”).

O traumatismo craniano também pode provocar um edema do cérebro e um aumento potencialmente letal da pressão dentro do crânio. A lesão craniana também pode lesar, gravemente, as células cerebrais (neurónios). Estas células podem ser destruídas, imediatamente, pelo impacto de uma lesão craniana ou então ficar lesadas levando mais tarde à perda de função à sua morte.

Todos os anos acontecem mais de 20.000 traumatismos cranianos em Portugal dos quais resultam cerca de 2.000 mortes. Cerca de 10 a 30% das pessoas que sobrevivem com traumatismos cranianos moderados ou graves ficam incapacitadas ou requerem cuidados hospitalares prolongados. Em geral, os traumatismos crânio-encefálicos (TCE) são a causa de morte mais comum entre os portugueses com idades compreendidas entre os 45 anos e mais jovens. As quedas com TCE são uma causa muito comum de hospitalização e morte entre pessoas com mais de 75 anos de idade. O sexo masculino tem três a quatro vezes mais probabilidades de sofrerem lesões cranianas. O abuso de álcool poderá estar na génese de cerca de 50% destes casos.

Na Europa e em Portugal, as causas mais comuns de lesões cranianas fechadas são os acidentes de viação, as quedas e as agressões violentas. Devido às forças extremas envolvidas nestes tipos de traumatismos, cerca de 75% das pessoas com lesões cranianas graves também sofrem lesões graves dos ossos do pescoço ou de órgãos importantes em outras partes do corpo. Estas lesões adicionais aumentam, muitas vezes, o risco de hemorragia, dificuldades de respiração, tensão arterial muito baixa (hipotensão) e outros problemas que, por si só, podem agravar a lesão provocada pelo traumatismo cerebral.

Manifestações clínicas

As lesões cranianas podem provocar uma ampla variedade de sinais e sintomas, dependendo do tipo de lesão, da sua gravidade e da sua localização. Alguns médicos classificam as lesões cranianas em três categorias:

• Traumatismo craniano ligeiro — Quando se verifica uma lesão mínima do exterior do crânio, sem perda de consciência. A pessoa ferida pode vomitar uma ou duas vezes e queixar-se de dor de cabeça (cefaleia).

• Traumatismo craniano moderado — Quando se verifica uma lesão mais óbvia do exterior do crânio e a pessoa pode ter perdido a consciência por um breve período de tempo. Outros sintomas podem incluir perda de memória (amnésia), cefaleia (dores de cabeça), tonturas, sonolência, náuseas, vómitos e confusão. Por vezes é visível uma descoloração tipo nódoa negra em redor dos olhos ou por detrás da orelha e o aparecimento de um líquido claro vertendo do nariz. Este líquido não é muco, mas sim líquido cefalo-raquidiano (líquido protector que rodeia o cérebro) que verteu através de uma fractura craniana perto do nariz.

• Traumatismo craniano grave — Quando se verifica uma lesão grave do exterior do crânio, muitas vezes, em conjunto com lesões que envolvem o pescoço, braços ou pernas ou órgãos corporais importantes. Na maioria dos casos, a pessoa fica inconsciente ou mal reage. No entanto, algumas pessoas ficam agitadas ou fisicamente agressivas. Cerca de 10% das pessoas com lesão craniana grave apresentam convulsões.

Diagnóstico

Todas as lesões cranianas devem ser avaliadas, de imediato, por um médico em contexto de serviço de urgência. Assim que chegar ao serviço de urgência, o médico vai querer saber:

• Como é que magoou a cabeça, incluindo a altura da queda ou a sua posição (sentado à frente, sentado atrás, condutor) num acidente de carro

• A sua reacção imediata à lesão, particularmente, qualquer perda de consciência ou perda de memória

• Quaisquer sintomas que ocorreram pouco após a lesão, tais como vómitos, dores de cabeça, confusão, sonolência ou convulsões

• As suas medicações actuais, incluindo medicamentos sem prescrição médica

• A sua história médica passada, particularmente quaisquer problemas neurológicos (acidentes vasculares cerebrais, epilepsia, etc.), quaisquer episódios anteriores de lesão craniana e o uso de álcool recente

• Se está a ter dor no pescoço, tórax, abdómen, braços ou pernas

Se não conseguir responder a estas questões, a informação pode ser fornecida por um membro da família, amigo ou pessoal paramédico que o trouxe para o hospital.

É essencial efectuar um exame físico e neurológico rigoroso que inclua avaliações do tamanho das pupilas, reflexos, sensibilidade e força muscular. Se os resultados destes exames forem normais, pode não necessitar de mais testes. No entanto, o médico pode decidir monitorizar a sua situação no hospital.

Se existirem lesões cranianas mais graves, os técnicos de emergência médica deverão tentar estabilizar a sua situação o máximo possível antes da chegada ao hospital. Para fazer isto, podem passar um tubo pela garganta e traqueia para ajudar a respirar com um ventilador mecânico, controlar qualquer hemorragia de feridas abertas, administrar medicação, por via intravenosa (injectada numa veia) para manter a tensão arterial e imobilizar o pescoço da pessoa no caso de uma fractura cervical. A partir do momento em que chega ao hospital e está estabilizado, o médico efectua uma breve avaliação física e neurológica. Esta será seguida por uma tomografia axial computorizada (TAC) do crânio e, se necessário, por radiografias da coluna. Na maioria dos casos, uma TAC é a melhor forma de detectar fracturas do crânio, lesão cerebral ou hemorragia craniana.

Evolução Clínica

Mesmo que a lesão craniana seja apenas ligeira, pode ter dificuldade em concentrar-se, temporariamente, e pode experimentar dores de cabeça ocasionais, tonturas e fadiga. Esta colecção de sintomas, denominada síndrome pós-concussão melhora, em regra, ao fim de três meses.

As formas mais graves de lesão craniana podem ser fatais. As que não são fatais, necessitam, por vezes, de um internamento hospitalar prolongado com reabilitação física. De acordo com um grande estudo, a duração média do internamento numa unidade de reabilitação é de 61 dias. Em alguns casos, a incapacidade é permanente.

Prevenção

Para ajudar a prevenir as lesões cranianas, tenha atenção às seguintes sugestões:

 

• Se beber álcool, beba em moderação e não conduza.

• Use um cinto de segurança ou um capacete sempre que viaje num veículo motorizado de duas rodas.

• Se a sua profissão envolver trabalhar em grandes alturas, use equipamento de segurança apropriado para evitar quedas acidentais. Nunca trabalhe num local alto se se sentir tonto, se esteve a beber álcool ou se está a tomar medicação que lhe pode dar tonturas ou afectar o seu equilíbrio.

• Se pratica desporto, use equipamento protector da cabeça adequado.

• Faça um exame à visão, pelo menos, uma vez por ano. A falta de visão pode aumentar o risco de quedas e de outros tipos de acidentes. Isto é, particularmente, importante se for idoso ou se trabalha em locais altos.

Tratamento

Se tiver um traumatismo craniano ligeiro, o seu médico pode decidir monitorizar a sua situação no serviço de urgência durante um breve período de tempo ou interná-lo no hospital para um breve período de observação. Enquanto estiver no serviço de urgência ou internado, o pessoal médico irá perguntar-lhe, periodicamente, sobre os seus sintomas, verificar os sinais vitais e confirmar que está vigilante e que consegue responder. Após um período de observação adequado pode ser enviado para casa em segurança mediante a condição de que será monitorizado por um adulto responsável que irá ficar consigo em casa durante um dia ou dois. Esta pessoa deverá receber instruções específicas sobre possíveis sinais de perigo a vigiar.

Se estiver incomodado com dores de cabeça após o traumatismo craniano, o seu médico pode sugerir que experimente, em primeiro lugar, o paracetamol. Se isto não funcionar pode ser necessário um analgésico mais forte. Evite tomar aspirina, ibuprofeno, naproxeno ou outro qualquer anti-inflamatório não esteróide (AINE) durante o período de recuperação, dado que estes fármacos podem aumentar o risco de hemorragia dentro do crânio.

Nas pessoas com lesões cranianas mais extensas, o tratamento depende do tipo de lesão, da sua gravidade e sua localização. Em muitos casos, o tratamento decorre numa unidade de cuidados intensivos com uso de ventilação mecânica (suporte para respirar) e de medicações para controlar a dor, diminuir o edema cerebral, manter a tensão arterial e evitar convulsões. É possível efectuar uma cirurgia para reparar uma fractura craniana em depressão, drenar um hematoma epidural ou subdural ou tratar uma hemorragia ou contusão cerebral.

Quando contactar um médico

Telefone, imediatamente, para a emergência médica se encontrar alguém inconsciente num local sinistrado. Procure o serviço de urgência se alguém com uma lesão cerebral grave experimentar qualquer um dos seguintes sintomas:

• Tonturas

• Sonolência

• Náuseas e vómitos

• Confusão

• Dificuldade em andar

• Discurso imperceptível

• Perda de memória

• Falta de coordenação

• Comportamento irracional

• Comportamento agressivo

• Convulsões

• Dormência ou paralisia em qualquer parte do corpo

Mesmo que a sua lesão craniana pareça ser menos grave e os seus sintomas sejam ligeiros, pode ser possível que tenha sofrido uma lesão significativa no cérebro ou nas suas estruturas circundantes. Isto é, particularmente, característico nos doentes:

• Idosos

• Que tomam medicamentos que alteram a coagulação ou as plaquetas

• Que apresentam uma perturbação hemorrágica

• Que apresentam uma história de alcoolismo

Se apresentar um ou mais dos factores de risco atrás listados, deve procurar um médico ou um serviço de urgência, imediatamente, se apresentar uma lesão craniana.

Prognóstico

O prognóstico depende da gravidade da lesão:

• Traumatismos cranianos ligeiros — Em regra, o prognóstico é muito bom. Embora algumas pessoas experimentem síndrome pós-concussão, isto, tipicamente, desaparece ao fim de cerca de três meses. Na maioria dos casos, não se verifica lesão a longo prazo, embora a melhoria possa ser gradual.

• Traumatismos cranianos moderados — Em regra, a melhoria mais drástica ocorre entre a primeira e a sexta semana. Após esse tempo, pode haver alguns problemas restantes com a memória ou atenção, mas estes podem não ser permanentes.

• Traumatismos cranianos graves — Até cerca de 50% das lesões cranianas graves são fatais. Entre as pessoas que sobrevivem a estas lesões, cerca de 20% sofre incapacidades graves.

Informação Adicional

Alto Comissariado da Saúde

http://www.acs.min-saude.pt

Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia

http://www.spnc.pt

Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia

http://www.spot.pt

Sociedade Portuguesa de Medicina Física e Reabilitação

http://www.spmfr.org

Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão

http://www.scml.pt/default.asp?site=cmra

Associação Traumatismo Craniano (Estados Unidos da América)

http://www.biausa.org

Fundação Traumatismo Cerebral (Estados Unidos da América)

http://www.braintrauma.org

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