Cardioversor Desfibrilhador Implantável (CDI)

Fonte:

Tradão e Edição de Imagem Científica:

 

Adaptação Científica:

Drª.Carolina Vaz Macedo

Validação Científica:

Prof. António Vaz Carneiro

Oiça, em 1 minuto, o áudio sobre Cardiologia pelo Prof. Rui Cruz Ferreira: Cardioversor Desfibrilhador Implantável

Leia aqui o artigo:

O que é?

Um cardioversor desfibrilhador implantável (CDI) é um dispositivo médico que é colocado dentro do corpo e que pode salvar a vida do doente.

Um CDI trata ritmos cardíacos anormais, potencialmente fatais (chamados arritmias), incluindo a fibrilhação ventricular, uma arritmia que faz com que as grandes câmaras musculares do coração (os ventrículos) estremeçam sem se contraírem realmente nem bombearem o sangue.

Quando isto acontece, não existe um verdadeiro batimento cardíaco e não se verifica um fluxo sanguíneo suficiente para o cérebro e para os outros órgãos, incluindo o coração, pelo que uma pessoa com uma fibrilhação ventricular perde os sentidos e pode morrer dentro de minutos.

Um CDI é composto por duas partes. O gerador de impulsos parece uma pequena caixa e é implantado sob a pele, abaixo da clavícula. Esta caixa contém uma bateria de óxido de lítio (que dura cerca de cinco a nove anos) e componentes eléctricas que analisam a actividade eléctrica do coração. Conectados ao gerador de impulsos encontram-se um ou mais eléctrodos que vão até ao coração. Quando o CDI identifica um ritmo cardíaco anormal, aplica um choque eléctrico breve e intenso ao coração, corrigindo o ritmo anormal. Muitas pessoas afirmam que o choque é sentido como um murro no peito, embora o grau de desconforto varie.

Além de “estimular” o coração para voltar novamente a um ritmo normal, os CDIs podem igualmente gerar impulsos eléctricos mais ligeiros. Estes impulsos podem regular artificialmente ou “controlar o ritmo” dos batimentos cardíacos se o coração desenvolver outros tipos de arritmias. Por exemplo, os impulsos do CDI podem ajudar a diminuir a frequência dos batimentos cardíacos quando uma pessoa tem uma taquicárdia ventricular, isto é, uma frequência cardíaca anormalmente rápida.

Os impulsos do CDI podem igualmente acelerar os batimentos cardíacos nos casos de bradicárdia, isto é, uma frequência cardíaca anormalmente lenta.

Um CDI mantém igualmente um registo das suas acções, o que ajuda o médico a monitorizar a frequência com que o doente tem arritmias e até que ponto elas são perigosas, bem como verificar se o CDI está a funcionar bem.

Os CDIs devem ser verificados periodicamente, não sendo necessária qualquer intervenção cirúrgica uma vez que um transmissor de rádio especial pode receber informações do dispositivo.

Além disso, os CDIs podem ser reprogramados para melhorar o seu desempenho através de ajustes com um instrumento pequeno, semelhante a uma varinha, mantido próximo do corpo.

Para prevenir uma falta de energia inesperada, os CDIs dispõem de um sinal de alarme incorporado que alerta o médico quando a bateria está fraca. Este sinal surge vários meses antes de a bateria expirar e pode ser detectado no consultório médico durante uma verificação de rotina do CDI.

Os primeiros CDIs que surgiram na década de 80 eram bastante simples: apenas tratavam a fibrilhação ventricular e possuíam um gerador de impulsos bastante grande (aproximadamente do tamanho de um maço de cigarros). A sua implantação exigia uma grande cirurgia de coração aberto, seguida de um internamento hospitalar prolongado.

Os novos CDIs dispõem de geradores de impulsos que têm aproximadamente 2,5 cm de diâmetro e que pesam menos de 40 gramas. Estes geradores de impulsos são inseridos sob a pele através de uma pequena incisão e os eléctrodos podem ser introduzidos através das veias sem necessidade de abrir cirurgicamente o peito, pelo que a implantação de um CDI é actualmente classificada como uma pequena cirurgia.

Ao longo das últimas duas décadas foram implantados mais de 200.000 CDIs em todo o mundo. Durante este tempo, os CDIs demonstraram repetidamente constituírem dispositivos capazes de salvar vidas, com confirmação pela maior parte dos ensaios clínicos de que as pessoas que têm CDIs apresentam um risco muito menor de morte súbita do que pessoas em situações clínicas comparáveis que receberam outros tratamentos. Nas pessoas que têm CDIs para corrigir uma fibrilhação ventricular, a taxa de sucesso é de quase 100%.

Os CDIs são implantados num bloco operatório ou num laboratório de electrofisiologia cardíaca.

Para que é usado

Os CDIs são usados para prevenir a morte súbita causada por determinados tipos de arritmias cardíacas, podendo ser recomendada a sua implantação nas seguintes situações:

  • Após sobrevivência a um episódio de fibrilhação ventricular potencialmente fatal.

  • Episódios repetidos de batimentos cardíacos anormalmente rápidos (taquicárdia ventricular).

  • Presença de coração aumentado resultante de uma doença cardíaca chamada miocardiopatia dilatada e perdas de conhecimento (síncopes inexplicadas).

  • Doença coronária com bombeamento de um baixo volume de sangue pelo coração e risco elevado de batimentos cardíacos anormalmente rápidos (taquicárdia ventricular).

  • Forma genética (hereditária) de doença cardíaca (miocardiopatia hipertrófica) que pode causar morte súbita mesmo em pessoas jovens.

Preparação

O médico irá rever a sua história clínica e antecedentes de alergias e irá pedir-lhe uma lista dos medicamentos que está a tomar. Se estiver a tomar medicamentos para prevenir a formação de coágulos sanguíneos (anticoagulantes), o médico irá dizer-lhe quando é que deve deixar de os tomar e irá proporcionar-lhe igualmente instruções sobre quando deixar de comer e beber antes do procedimento.

Como é realizado

Antes da cirurgia, irá vestir uma bata hospitalar e deverá remover quaisquer jóias, assim como o relógio.

A localização mais comum para colocar o gerador de impulsos do CDI é abaixo da clavícula esquerda. A pele nessa área será escanhoada, limpa e anestesiada com um anestésico local. Se necessitar de mais do que um anestésico local para se sentir confortável, o médico poderá optar pela utilização de uma sedação consciente, que é uma forma de anestesia que lhe permite permanecer acordado e sem dores durante a cirurgia.

Será efectuada uma pequena incisão na área anestesiada perto da clavícula e, em seguida, será realizada uma pequena incisão numa veia (chamada veia cefálica) sob a clavícula. Esta veia será usada como passagem para introduzir o(s) eléctrodo(s) do CDI no coração. Alguns modelos de CDI usam um eléctrodo enquanto outros usam mais.

O médico irá inserir o(s) eléctrodo(s) na veia cefálica e orientá-lo(s) até ao coraçã, confirmando o seu correcto posicionamento através de uma radiografia. O(s) fio(s) condutor(es) do(s) eléctrodo(s) será/ão ligado(s) ao gerador de impulsos, que será então fixado próximo da clavícula.

O médico irá testar o CDI para se certificar de que está a funcionar correctamente, desencadeando arritmias cardíacas de propósito e, em seguida, observando como o CDI responde. Durante esta parte da intervenção, irá ser submetido a uma anestesia geral.

Depois de o médico se certificar de que o CDI está a funcionar adequadamente, a incisão será encerrada com pontos (suturada) ou com agrafos cirúrgicos. A intervenção demora geralmente uma a duas horas no total.

Depois da cirurgia, a equipa médica irá monitorizar a sua situação clínica cuidadosamente. Durante este período, o médico pode utilizar um instrumento magnético manual para proceder a ajustes na programação no CDI. Ao longo dos dias seguintes, irá receber antibióticos para ajudar a prevenir uma infecção. Se tudo correr bem, o internamento hospitalar deve ser breve.

Antes de deixar o hospital, irá receber instruções para uma recuperação segura. Em particular, deve evitar levantar pesos e realizar outros movimentos extenuantes com o braço durante algumas semanas, uma vez que estas actividades podem desalojar os eléctrodos do CDI ou desviar a sua posição dentro do coração.

Ser-lhe-ão proporcionadas informações sobre as restrições relativamente à condução e à participação em desportos de contacto. O médico irá igualmente dizer-lhe como pode reduzir o risco de interferência electromagnética, a qual pode afectar a programação e o desempenho do CDI. Esta interferência pode verificar-se com dispositivos anti-roubo, equipamento de vigilância, telemóveis, equipamento de soldar e maquinaria hospitalar, por exemplo aparelhos de ressonância magnética.

Antes de ir para casa, ser-lhe-á dado um cartão de identificação com informações sobre a marca e o modelo do CDI, que deve trazer sempre consigo. Pode igualmente utilizar um colar ou uma pulseira de alerta médico que o identifique como portador de um CDI.

Seguimento

O médico irá provavelmente programar a primeira consulta de avaliação para uma ou duas semanas depois da cirurgia. Nesta consulta, irá inspeccionar a incisão e remover as suturas ou agrafos, bem como verificar se o CDI está a funcionar correctamente.

Depois da primeira consulta de seguimento, irá provavelmente regressar para uma verificação do CDI com intervalos de três a seis meses. Se não tiver problemas ou queixas, este esquema de seguimento deve ser mantido durante os três ou quatro anos seguintes.

Durante as consultas de seguimento, o médico irá verificar o nível da bateria, a programação e o registo electrónico do CDI. Ao fim de três ou quatro anos, dependendo da sua evolução, as avaliações podem ser programadas com uma menor frequência.

Riscos

Mais de 99% dos doentes sobrevivem à intervenção para implantação do CDI e menos de 3% apresentam complicações relacionadas com a cirurgia. As complicações da cirurgia para implantação de um CDI podem incluir:

  • Infecção

  • Hemorragia excessiva

  • Perfuração do músculo cardíaco ou do pulmão

  • Acidente vascular cerebral ou ataque cardíaco (enfarte do miocárdio)

  • Formação de uma colecção de sangue (hematoma) sob a superfície da pele

Uma vez colocado o CDI, existe igualmente um risco a longo prazo de:

  • Deslocação dos eléctrodos do CDI

  • Quebra de uma extremidade de um eléctrodo

  • Quebra do isolamento de um fio condutor do CDI

  • Disparo inapropriado do CDI (Tal ocorre frequentemente em resposta a arritmias que não têm origem nos ventrículos. Antigamente, o disparo inapropriado constituía um problema muito comum, afectando aproximadamente 25% dos portadores de CDIs, mas actualmente, devido aos melhoramentos no fabrico dos CDI, apenas ocorre em aproximadamente 5% dos doentes.)

  • Desgaste (erosão) da pele onde o gerador de impulsos se encontra localizado

  • Curto-circuito ou outra falência eléctrica do CDI

Quando contactar um profissional

Depois da cirurgia, contacte o imediatamente o médico se:

  • A área em volta da incisão ficar vermelha, inchada, quente ou dolorosa

  • Os bordos da incisão deitarem sangue ou pus

  • Uma sutura ou agrafo se abrirem e os bordos da incisão se afastarem um do outro

  • Apresentar febre ou calafrios

  • A pele sobre o seu gerador de impulsos começar a ferir-se

  • Os impulsos eléctricos do CDI causarem dor ou desconforto significativos

Procure imediatamente cuidados médicos de emergência se tiver um CDI e:

  • Sentir que vai desmaiar ou tiver tonturas

  • Tiver dores no peito ou falta de ar

  • Desenvolver palpitações ou batimentos cardíacos muito irregulares

Informação Adicional

Sociedade Portuguesa de Cardiologia

http://www.spc.pt

Campo Grande 28, 13º   1700-093 Lisboa

Telefones: 217978605, 217817630

Fax: 217931095

Alto Comissariado da Saúde

http://www.acs.min-saude.pt

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