O que é um Bypass Coronário?

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Tradão e Edição de Imagem Científica:

 

Adaptação Científica:

Drª.Carolina Vaz Macedo

Validação Científica:

Prof. António Vaz Carneiro

Leia aqui o artigo:

O que é?

O bypass coronário, também denominado cirurgia de pontagem coronária ou de revascularização coronária, é um procedimento que permite que o sangue contorne (ou faça uma ponte sobre) uma secção obstruída em uma ou mais artérias coronárias.

As artérias coronárias são os vasos sanguíneos que fornecem oxigénio e nutrientes ao coração. Existem várias artérias coronárias e os seus nomes estão relacionados com a localização (ex: ramo principal da artéria coronária esquerda, artéria coronária descendente anterior e artéria coronária direita).

Na doença coronária o lúmen (interior) destas artérias encontra-se estreitado pela acumulação de gordura e de colesterol em placas (aterosclerose), com diminuição da quantidade de sangue que chega ao coração. Estas placas podem ainda romper, levando à formação de um coágulo de sangue que pode obstruir a artéria e interromper de forma abrupta o fluxo de sangue para o coração, originando um ataque cardíaco.

Qual a finalidade

Habitualmente esta intervenção cirúrgica é necessária nos casos em que diversas artérias coronárias estão obstruídas de forma generalizada. A manifestação mais comum de doença coronária é um tipo de dor no peito, denominado angina. Esta dor é geralmente descrita como um aperto ou queimadura no centro do peito ou ligeiramente para o lado esquerdo da caixa torácica. A dor pode irradiar para os braços (mais frequentemente para o braço esquerdo), para o abdómen, para o maxilar inferior ou para o pescoço.

Outras manifestações de obstrução das artérias coronárias podem incluir:

  • Suores
  • Náuseas
  • Tonturas
  • Cabeça oca
  • Falta de ar
  • Palpitações.

Algumas pessoas confundem estes sintomas com indigestão.

Determinadas pessoas com doença coronária não têm quaisquer sintomas. Para estas pessoas, a dor intensa de um ataque cardíaco pode constituir o primeiro sinal de que o fluxo de sangue para o coração se tornou criticamente baixo.

Por vezes, a localização da obstrução faz com que a cirurgia de bypass coronário seja considerada o tratamento preferencial. Se o médico recomendar a cirurgia, provavelmente já considerou todas as outras opções, que incluem terapêutica medicamentosa, a angioplastia com balão e a colocação de stents. Os factores que, mais provavelmente, irão levar o médico a recomendar a cirurgia são a evidência de que o doente tem uma doença coronária generalizada ou o facto de os seus sintomas não conseguirem ser controlados com medicamentos.

Como é realizada

O cirurgião utiliza um vaso sanguíneo de outra parte do corpo para formar um novo canal (pontagem) de modo a que o sangue possa fluir contornando a área obstruída de uma ou mais artérias (o doente não deve preocupar-se: a remoção das artérias e das veias não afecta de forma significativa o fluxo de sangue das zonas de onde são retiradas).

O vaso sanguíneo que irá ser utilizado para contornar a obstrução pode ser proveniente de uma de três localizações:

1. A parede torácica

Pode ser destacada uma artéria do interior da caixa torácica, sendo a sua extremidade aberta suturada na artéria coronária abaixo da obstrução.

2. A perna

Pode ser removida uma secção de uma veia longa da perna. Uma extremidade é suturada na aorta (artéria de grandes dimensões que sai do coração) enquanto a outra extremidade é suturada na artéria coronária abaixo da obstrução.

3. O braço

Pode ser removida uma secção da artéria radial no antebraço ― desde que a artéria cubital (a outra artéria do antebraço) esteja a funcionar normalmente. Uma extremidade é suturada na aorta enquanto a outra extremidade é suturada na artéria coronária abaixo da zona da obstrução.

Antes da operação:

  • Uma grande parte dos pêlos corporais será rapada, especialmente ao nível do tórax e das pernas
  • O doente deverá tomar um duche e lavar-se com um produto anti-séptico para remover as bactérias da pele e reduzir a probabilidade de infecção
  • O doente deverá entregar os seus objectos pessoais, tais como óculos, lentes de contacto, jóias e dentaduras a um familiar (ou ao pessoal da enfermagem) para que sejam guardados
  • Cerca de uma hora antes da intervenção cirúrgica, serão administrados medicamentos para relaxar e provocar sonolência
  • O doente será transportado para a sala de operações e será anestesiado para que fique “a dormir”.

Durante a intervenção cirúrgica, o cirurgião irá geralmente ligar o doente a uma máquina de coração-pulmão, que substitui os pulmões e coração, adicionando oxigénio ao sangue e fazendo com que este circule por todo o corpo. A máquina permite que o cirurgião pare o coração enquanto sutura o novo vaso sanguíneo no seu lugar.

As etapas principais da cirurgia de bypass coronário são as seguintes:

  • Abrir o tórax para chegar ao coração
  • Remover as veias ou as artérias da perna e/ou dos braços que são necessárias para a operação
  • Ligar o doente à máquina de coração-pulmão e parar o coração com uma solução que contém uma grande quantidade de potássio
  • Realizar a cirurgia
  • Reiniciar o coração (com um choque eléctrico, se necessário) e desligar a máquina de coração-pulmão
  • Verificar, limpar e encerrar a área cirúrgica.

A cirurgia pode demorar três a seis horas. O tempo em que o doente é mantido ligado à máquina de coração-pulmão e o estabelecimento dessa ligação é muito inferior ― geralmente menos de uma hora. A duração depende da complexidade do caso em particular.

Existem diversas técnicas novas para a cirurgia de bypass coronário. O bypass coronário por portas de acesso e o bypass coronário minimamente invasivo não envolvem a abertura do tórax no mesmo grau que a cirurgia convencional (este tipo de cirurgia é igualmente denominado cirurgia coronária de acesso limitado). Outra técnica, denominada cirurgia sem bomba, é realizada sem parar o coração. O objectivo de todas estas novas técnicas consiste em diminuir as complicações e/ou a dor.

Bypass coronário minimamente invasivo

O objectivo desta técnica é evitar usar uma máquina de coração-pulmão. Neste tipo de cirurgia, o coração continua a bater enquanto a operação é realizada. São igualmente utilizadas pequenas portas no tórax, bem como uma pequena incisão directamente sobre a artéria coronária que necessita do bypass através da qual o cirurgião pode observar a artéria.

Bypass coronário sem bomba

Nesta operação, o coração nunca é parado. Um equipamento especial mantém a área do coração onde o cirurgião está a trabalhar o mais imóvel possível. Esta técnica visa reduzir as complicações associadas à utilização da máquina de coração-pulmão, como é o caso do acidente vascular cerebral (AVC).

Seguimento

Depois da cirurgia, o doente será transportado para uma unidade de cuidados intensivos e irá recuperar a consciência (acordar) depois de a anestesia ter sido suspensa. O doente pode não conseguir mover os braços e as pernas inicialmente, mas irá recuperar rapidamente a coordenação. A sua família poderá visitá-lo por um breve período na área de recobro.

Durante o internamento hospitalar, o doente irá ter tubos e fios ligados a partes do seu corpo, que servem para administrar soros e medicamentos, para obter amostras de sangue e para monitorizar a pressão arterial. Irá igualmente ter:

  • Um ou mais tubos no tórax que servem para drenar o líquido que se acumula durante e depois da operação;
  • Pequenos adesivos ou eléctrodos no peito, que enviam informação para monitores;
  • Um tubo na boca que o ajuda a respirar até conseguir fazê-lo por si próprio, que será geralmente removido nas primeiras 24 horas após a intervenção cirúrgica
  • Uma algália, que drena a urina até poder ir à casa de banho sozinho.

O doente irá passar os primeiros dois ou três dias na unidade de cuidados intensivos. Quando já não for necessária uma monitorização constante, será então transferido para uma unidade de cuidados intermédios.

Depois de o tubo para respirar ter sido removido, o doente será capaz de engolir líquidos e irá iniciar uma dieta regular logo que se sinta em condições para isso. Pode igualmente levantar-se da cama, sentar-se numa cadeira e andar no quarto logo que consiga fazê-lo. Pode tomar banho com uma esponja no período imediatamente a seguir à cirurgia e tomar duche e lavar a cabeça dentro de alguns dias.

É de esperar que o doente sinta algum desconforto no peito no local onde foi efectuada a incisão, pelo que lhe serão administrados medicamentos analgésicos para aliviar a dor. As incisões no peito e na perna (se tiver sido removida uma veia dessa zona) podem igualmente apresentar prurido (comichão), hipersensibilidade, entorpecimento ou equimoses (nódoas negras).

Depois da cirurgia, pode surgir febre baixa, que pode causar sudação profusa (suores intensos) durante a noite ou mesmo durante o dia, podendo esta situação prolongar-se durante dois ou três dias.

No hospital, o doente será aconselhado a praticar exercícios respiratórios com inspiração profunda e a tossir, uma vez que estes são importantes para acelerar a recuperação. A tosse reduz as probabilidades de se desenvolver pneumonia e febre. A maior parte dos doentes tem receio de tossir depois da intervenção cirúrgica, mas isso não irá prejudicar a incisão nem o bypass coronário. Se o doente sentir desconforto, deve colocar uma almofada sobre o peito.

O doente irá provavelmente permanecer no hospital durante quatro a seis dias após a cirurgia. A duração do internamento depende do estado de saúde do doente antes da cirurgia e da possível ocorrência de complicações no pós-operatório.

Uma vez em casa, geralmente é necessária uma semana para o doente começar a sentir-se melhor. É comum que se sinta fraco aquando do regresso a casa. Serão provavelmente necessárias mais quatro a seis semanas antes de a pessoa recuperar o seu nível de energia habitual. Durante a convalescença, o doente pode sentir:

  • Diminuição do apetite ― podem ser necessárias várias semanas até o apetite regressar ao normal;
  • Edema (inchaço) da perna, se tiver sido removido um enxerto nessa localização; o edema pode ser reduzido através da elevação da perna e do uso de meias elásticas; andar ajuda o sangue a circular nas pernas e ajuda igualmente o coração;
  • Dificuldade em dormir, que irá melhorar ― tomar um comprimido para as dores antes de ir para a cama por vezes ajuda;
  • Obstipação ― o doente pode tomar um laxante; deve manter uma dieta rica em fibra e frutas.
  • Oscilações do humor ― haverá dias melhores e outros piores; não deve desanimar, pois o seu humor irá melhorar.

O médico irá dizer ao doente o que justifica uma atenção imediata de emergência, como uma dor no peito semelhante à angina que tinha antes da cirurgia, bem como outras queixas que justifiquem o contacto com um médico, tais como um agravamento do edema maleolar (inchaço do tornozelo) ou dor na perna.

A American Heart Association recomenda que o doente siga as seguintes orientações para a recuperação no domicílio:

  • Levantar-se às horas habituais
  • Tomar banho ou chuveiro, se possível
  • Não andar em casa de pijama
  • Descansar a meio da manhã, a meio da tarde e depois de qualquer actividade
  • Andar a pé ao longo de alguns quarteirões, consoante o médico permitir
  • Recordar-se que a capacidade para fazer mais vem com o tempo
  • Não levantar objectos com um peso igual ou superior a 2,5 kg durante, pelo menos, quatro semanas após a cirurgia. A incisão no peito e o esterno precisam de tempo para cicatrizar. No entanto, o doente pode ajudar a realizar algumas tarefas domésticas leves, não devendo começar a pegar em pesos sem discutir previamente o assunto com o médico
  • Pode manter actividades habituais que não impliquem grandes esforços físicos (ex: ir ao cinema, à igreja e às compras)
  • Aguardar algumas semanas antes de recomeçar a conduzir, embora possa em qualquer altura deslocar-se no lugar no passageiro

O doente pode recomeçar a ter relações sexuais quatro semanas após a operação.

O reinício da actividade profissional depende da forma como a recuperação está a evoluir, do tipo de trabalho que exerce e da idade. Se tiver um trabalho sedentário (como estar sentado a uma secretária na maior parte do dia), pode regressar ao trabalho ao fim de quatro a seis semanas. Se tiver uma profissão exigente do ponto de vista físico, pode ter de aguardar mais tempo ― ou, em alguns casos, deverá arranjar outro tipo de trabalho.

O doente pode iniciar um programa de reabilitação cardíaca antes de ter alta do hospital ou até seis semanas após a alta. Depois de sair do hospital, a participação num programa geralmente requer a referenciação do médico. A maior parte dos programas implicam três ou mais sessões por semana durante 12 semanas, tendo cada sessão a duração aproximada de uma hora.

A cirurgia melhora o fluxo de sangue no coração, mas evita que a doença coronária recorra. Para reduzir este risco, é muito importante que haja uma alteração no estilo de vida:

  • Se fumar, deve deixar de o fazer — e evite o fumo de tabaco das outras pessoas
  • Se for hipertenso, deve controlar a pressão arterial com medicamentos
  • Reduzir o colesterol LDL ― para isso, irá provavelmente necessitar de tomar uma estatina
  • Comer mais fruta, vegetais e peixe
  • Comer menos gorduras saturadas e colesterol
  • Aumentar gradualmente a prática de exercício físico até um total de 30 a 60 minutos durante 3 a 4 dias por semana
  • Manter um peso saudável ― o médico pode dizer qual é o peso recomendável no seu caso
  • Se tiver diabetes, mantê-la controlada
  • Controlar o stress ― deve evitar as situações que sabe que irão irritá-lo.

Riscos

Entre 1 e 2% dos doentes não sobrevivem a uma cirurgia de bypass coronário. Quando a operação é realizada como uma emergência, a taxa de mortalidade é ainda mais elevada. O risco depende do estado do coração do doente, da sua idade, da gravidade de outros problemas médicos que possa apresentar e de ter ou não sofrido um ataque cardíaco recente ou de ter sido submetido a outras intervenções cirúrgicas cardíacas.

Outras complicações possíveis incluem:

  • hemorragia interna
  • insuficiência cardíaca
  • alterações do ritmo cardíaco
  • necessidade de um pacemaker permanente
  • acidente vascular cerebral (AVC)
  • formação de coágulos de sangue
  • infecção da ferida operatória
  • pneumonia
  • insuficiência respiratória
  • insuficiência renal
  • febre e dor no peito
  • riscos anestésicos em geral.

As pessoas que são submetidas a uma cirurgia de bypass coronário podem apresentar problemas a curto ou a longo prazo ao nível da memória, da concentração e depressão. O cirurgião irá discutir estes riscos com o doente e este irá necessitar de assinar um formulário de consentimento para ser submetido à cirurgia.

A cirurgia de bypass coronário já é realizada há mais de 25 anos e pessoas com idade superior a 80 anos têm sido submetidas a cirurgias bem sucedidas. Em ocasiões raras, esta cirurgia tem sido realizada em doentes com mais de 90 anos de idade.

Algumas sugestões sobre as medidas que o doente pode tomar para reduzir o risco de complicações incluem:

  • perguntar ao cirurgião se deve continuar a tomar os medicamentos habituais antes da intervenção cirúrgica, com especial atenção para a aspirina ou outros medicamentos contento ácido acetilsalicílico (o princípio activo da aspirina)
  • informar o cirurgião sobre a sua história clínica (incluindo outros problemas de saúde e eventuais alergias).

É do interesse tanto do cirurgião como do doente que toda a informação possível esteja disponível antes da cirurgia de modo a que possam ser providenciados todos os cuidados adequados durante o período de internamento.

Informação adicional

Fundação Portuguesa de Cardiologia
http://www.fpcardiologia.pt/
 
Sociedade Portuguesa de Cardiologia
http://www.spc.pt/
 
Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardio-Torácica e Vascular
http://www.spcctv.pt/
 
Alto Comissariado da Saúde
http://www.acs.min-saude.pt/
 
American Heart Association (AHA)
http://www.americanheart.org/
 
American College of Cardiology
http://www.acc.org/
 
European Society of Cardiology
http://www.escardio.org/

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