O exercício previne a doença cardiovascular?

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Tradão e Edição de Imagem Científica:

 

Adaptação Científica:

Drª. Ana Correia

Validação Científica:

Prof. António Vaz Carneiro

Oiça, em 1 minuto, o áudio sobre Cardiologia pelo Prof. Jaime Correia de Sousa: O exercício previne a doença cardiovascular?

Leia o artigo aqui:

A doença cardiovascular é a principal causa de morte em Portugal e inclui a aterosclerose (a acumulação de depósitos de gordura no interior das artérias), o ataque cardíaco (enfarte do miocárdio) e o acidente vascular cerebral. A doença cardíaca e o acidente vascular cerebral constituem ainda causas importantes de incapacidade.

Estudos realizados na década de 1940 confirmaram uma associação entre níveis mais elevados de actividade física e taxas mais baixas de doença cardíaca. Em 2008, investigadores que analisaram minuciosamente os dados provenientes de múltiplos estudos, verificaram que indivíduos com níveis elevados e moderados de actividade física durante os períodos de lazer tinham um menor risco de doença cardíaca (menos 27% e 12%, respectivamente), em comparação com indivíduos com níveis baixos de actividade física.

Outros estudos obtiveram resultados semelhantes. Uma análise que envolveu um grande número de estudos verificou que mesmo uma hora de marcha por semana reduziu o risco de acidente vascular cerebral, de doença cardíaca e de doença cardiovascular em geral, em mulheres previamente inactivas. Mais uma vez, as mulheres com maior actividade física tiveram uma diminuição mais significativa do risco cardiovascular. Outros estudos encontraram resultados semelhantes para os homens. Do mesmo modo, a evidência de muitos ensaios clínicos aleatorizados demonstrou que os indivíduos com doença cardíaca que iniciaram programas de reabilitação cardíaca baseada no exercício físico reduziram o risco de morrerem devido a problemas cardíacos ou a outras causas durante o período de seguimento.

O exercício físico melhora a saúde cardiovascular de diversas formas.

Reduz a pressão arterial

Uma destas formas consiste em prevenir ou reduzir a hipertensão arterial (pressão arterial elevada). Quanto menos activa a pessoa for, maior o seu risco de desenvolver hipertensão arterial. A hipertensão a longo prazo duplica ou triplica o risco de insuficiência cardíaca e pode conduzir a doença cardíaca, a hemorragia cerebral, a aneurismas aórticos, a doença e insuficiência renal e à lesão de outros órgãos.

A pressão arterial representa a força necessária para fazer o sangue circular através das artérias, sendo realizadas duas medições para determinar a pressão arterial: o primeiro valor, o mais elevado (pressão arterial sistólica), reflecte a pressão arterial nas artérias quando o coração bombeia o sangue; o segundo valor, o mais baixo (pressão arterial diastólica) reflecte a pressão nas artérias entre os batimentos cardíacos, quando o coração relaxa e se enche de sangue. Embora uma pressão arterial de 120/80 mmHg seja considerada um valor normal, a investigação mostra-nos que o risco de ataque cardíaco (enfarte do miocárdio) ou de acidente vascular cerebral aumenta à medida que a sua pressão sistólica sobe para valores superiores a 115 mmHg.

Numerosos estudos demonstraram que a actividade física pode reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de hipertensão arterial. Por exemplo, um estudo de 12 anos de duração, com 6.000 indivíduos saudáveis com idade compreendida entre os 20 e os 65 anos, revelou que os indivíduos que apresentavam pior forma física tinham um risco 52% superior de evidenciarem uma pressão arterial elevada em comparação com as pessoas em melhor forma física.

O exercício físico regular pode reduzir a pressão arterial tanto sistólica como diastólica, não só nas pessoas hipertensas mas também nos indivíduos que têm uma pressão arterial normal. Uma análise de 54 ensaios clínicos aleatorizados controlados, publicada na revista Annals of Internal Medicine, demonstrou que o exercício físico reduzia a pressão arterial sistólica em aproximadamente 4 pontos e a pressão arterial diastólica em aproximadamente 3 pontos em adultos previamente sedentários que participaram num programa de exercício aeróbio.

Previne o crescimento da placa aterosclerótica nas artérias

A aterosclerose constitui outro factor de risco essencial na doença cardiovascular. Depósitos de gordura (placas) acumulam-se à medida que as partículas de colesterol LDL (“colesterol mau”) da circulação sanguínea se alojam nas zonas vulneráveis das paredes arteriais, estreitando os vasos de tal forma que os impedem de fornecer sangue rico em oxigénio aos órgãos vitais, tais como o coração e o cérebro. Quando isto acontece nos vasos que transportam o sangue para o coração, pode conduzir ao aparecimento de dor no peito (angina). Se uma placa vulnerável sofrer uma ruptura, pode forma-se um coágulo de sangue, impedindo o fornecimento de sangue ao coração ou ao cérebro, o que pode resultar num ataque cardíaco (enfarte agudo do miocárdio) ou num acidente vascular cerebral, respectivamente.

O exercício físico combate a aterosclerose de diversas formas. Diversos estudos confirmaram repetidamente que a actividade física aeróbia moderada a vigorosa aumenta o colesterol HDL (“colesterol saudável”) no sangue. O colesterol HDL transporta as gorduras para o fígado para serem metabolizadas, prevenindo a sua acumulação nas paredes arteriais. Os investigadores referem um aumento médio de 4,6% no colesterol HDL através do exercício físico. Este efeito é ainda mais impressionante quando se considera que, para cada aumento de 1% no colesterol HDL, há uma diminuição do risco de uma pessoa vir a morrer de doença cardíaca de 3,5%. O exercício físico também melhora a saúde das artérias ao reduzir os níveis no sangue das gorduras prejudiciais para a saúde, tais como o colesterol LDL e os triglicéridos, que são outro tipo de lípidos (gorduras) associados à doença cardiovascular.

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine verificou que os regimes de marcha ou de corrida melhoraram os níveis de lípidos, embora as alterações no peso fossem mínimas. Mais uma vez, os investigadores verificaram que o nível mais elevado de exercício físico (32 km por semana) proporcionou os maiores ganhos e concluíram que a quantidade de exercício físico era mais importante do que a sua intensidade para promover perfis de lípidos mais saudáveis.

A aterosclerose ocorre quando os depósitos de gordura, denominados placas, se acumulam nas paredes das artérias. Estas placas estreitam as artérias do coração, o que pode conduzir ao aparecimento de dor no peito. Se as placas vulneráveis sofrerem ruptura, pode formar-se um coágulo de sangue que se aloja nos vasos sanguíneos do coração e cérebro, o que pode conduzir a ataques cardíacos (enfartes) e a acidentes vasculares cerebrais. O exercício físico ajuda a prevenir a aterosclerose ao reduzir os níveis de colesterol LDL prejudicial para a saúde (um componente da placa) e aumentando os níveis de colesterol HDL saudável. O colesterol HDL transporta as gorduras para o fígado, prevenindo a sua acumulação nas paredes arteriais.

Protege as artérias

O exercício físico também protege as artérias através de outros mecanismos. As paredes das artérias são revestidas por uma camada muito fina de células, denominada endotélio. As lesões do endotélio – provocadas pela hipertensão arterial, pelo tabagismo, pela diabetes, pelo colesterol elevado e pelo desgaste associado ao envelhecimento – constituem frequentemente pontos de partida para o crescimento da placa aterosclerótica. Nos vasos saudáveis, o endotélio produz substâncias químicas que relaxam ou contraem as artérias para facilitar o fluxo de sangue. À medida que envelhece, o endotélio perde alguma da sua capacidade natural para produzir estas substâncias químicas, o que prejudica a elasticidade das artérias, deixando-as vulneráveis à acumulação da placa aterosclerótica.

O exercício físico pode ajudar a contrariar esta perda de elasticidade das artérias. Um estudo comparou a função arterial de um grupo de pessoas sedentárias com idade compreendida entre os 20 e os 40 anos com a de um grupo heterogéneo de indivíduos com 60 a 70 anos. Os investigadores verificaram que as artérias dos indivíduos atléticos do grupo mais idoso dilatavam tão eficientemente como os vasos das pessoas mais jovens. Um segundo estudo, publicado na revista The New England Journal of Medicine, confirmou que o exercício intensivo pode melhorar dramaticamente a função do endotélio, mesmo nas pessoas que já sofrem de aterosclerose.

Os cientistas acreditam que o mecanismo de dilatação e contracção regular das artérias durante o exercício físico mantém os vasos “em forma” e preserva a função endotelial. Além disso, o exercício limita a produção de colesterol LDL e de outras substâncias que lesam o endotélio.

Melhora a qualidade de vida

Os problemas cardíacos são, frequentemente, uma bola de neve. Por exemplo, as pessoas com insuficiência cardíaca, por sentirem fadiga e dificuldade em respirar, tendem a diminuir progressivamente a actividade física e a evitarem as actividades fora de casa. As saídas e os acontecimentos sociais podem parecer um esforço excessivo, o que intensifica o isolamento e a depressão.

Em 2009, a revista The Journal of the American Medical Association publicou os resultados de um ensaio clínico realizado em 2.330 doentes com insuficiência cardíaca, distribuídos aleatoriamente para integrarem dois grupos. Um dos grupos recebeu tratamento médico e incentivo para praticar exercício físico. O outro iniciou um programa de 36 sessões supervisionadas de passeios a pé, de marcha em tapete rolante ou de bicicleta (três vezes por semana), seguidas por uma recomendação de um programa de exercício físico no domicílio (cinco vezes por semana). Embora ambos os grupos tenham apresentado melhorias modestas nos três primeiros meses do estudo, o grupo do exercício referiu benefícios mais significativos na qualidade de vida, com menores limitações físicas e sociais e menos sintomas. Se tem insuficiência cardíaca é importante que tome a medicação prescrita pelo seu médico mas, para o sucesso do tratamento, é indispensável que altere o seu estilo de vida, mantendo uma dieta saudável e praticando exercício adequado à sua condição física.

Diminui o risco de formação de coágulos de sangue

Além de estreitarem as artérias e de prejudicarem o fluxo de sangue, as placas ateroscleróticas podem sofrer ruptura e provocar um ataque cardíaco (enfarte agudo do miocárdio). As placas vulneráveis são cobertas apenas por uma cápsula fina e, ao longo do tempo, a inflamação e diversas alterações celulares enfraquecem e degradam a cápsula até esta sofrer uma ruptura, expondo o núcleo de gordura (material formado por colesterol e leucócitos). Quando isto acontece, o organismo envia plaquetas que aderem no local da ruptura, evitando uma hemorragia. No entanto, as plaquetas formam um coágulo que pode obstruir parcialmente ou totalmente o fluxo de sangue para o coração.

O exercício físico ajuda a manter o revestimento interno das artérias saudável e, deste modo, menos propenso a lesões que propiciem a formação da placa aterosclerótica. O exercício físico também inibe a formação do coágulo de sangue ao tornar as plaquetas menos “aderentes”, ao promover a libertação de enzimas que degradam os coágulos e ao reduzir a inflamação.

Promove a formação de novas artérias coronárias

A maior necessidade de sangue rico em oxigénio que ocorre durante o exercício aeróbio pode conduzir a um aumento no tamanho e no número das artérias coronárias que abastecem o coração, ou seja, à formação de outros canais para o sangue oxigenado alcançar o músculo cardíaco. Se ocorrer uma obstrução arterial, existe um menor risco do músculo cardíaco sofrer uma lesão visto que existem canais alternativos para manter a irrigação sanguínea. O aumento de fornecimento de oxigénio também confere alguma protecção contra as perturbações perigosas do ritmo cardíaco (arritmias).

2 Respostas to “O exercício previne a doença cardiovascular?”

  1. Edição da manhã, Sic Notícias – As doenças cardiovasculares, com o Prof. Armando Brito de Sá « Programa Harvard Medical School – Portugal Says:

    […] o artigo aqui: O exercício previne a doença cardiovascular? Share this:TwitterFacebookGostar disto:GostoBe the first to like this . Na categoria HMS-PT nos […]

  2. jorge manuel bastos das neves Says:

    Artigo muito bem elaborado, muito útil, muito pertinente e bastante acessível aos leitores.
    Parabéns ao Programa Harvard Portugal e aos autores.


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